12 junho 2011





OLÍMPIA, sempre!










Fazia ainda a manhã os seus primeiros passos. Lisboa a 9 de Junho, procurava qualquer coisa no Martim Moniz, de que rapidamente me esqueci, quando recebo da Augusta a notícia mais triste deste ano. A nossa querida Olímpia, não foi capaz de resistir à luta que vinha travando, há mais de dois anos. Faria a 29 de Novembro deste ano, 47 anos. Uma vida que acaba cedo de mais, uma daquelas injustiças que acontecem. Simpatia, profissionalismo, dedicação às nossas causas, um amor imenso que distribuía pelos amigos, uma tremenda vontade de viver, na alegria do seu sorriso do tamanho do mundo. Onde quer que estejas agora, queria Amiga, sabe que te recordaremos sempre com aquela saudade que não se define, sente-se somente, uma dor que custará a passar…

06 junho 2011

Contornar o obstáculo






"Perante um obstáculo,
a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva
…"

Bertolt Brecht, in: “Vida de Galileu






Fecha-se um ciclo político, com o apuramento dos resultados do acto eleitoral de 6 de Junho. Pela primeira vez, a direita consegue o “sonho” de Sá Carneiro, uma maioria, um governo, um presidente. Quaisquer que sejam as ilações, diferentes obviamente segundo a perspectiva, a verdade é que o País foi sistemática e criteriosamente conduzido a uma situação de ruptura das finanças públicas, pela governação dos 3 partidos do convencionado arco do poder. Atribuo inteira responsabilidade da situação a que chegamos à politica desastrosa do Partido Socialista e à diletante prestação de José Sócrates, que agora sai de cena, deixando o Partido num estado de indefinição, contrariando as expectativas legítimas de milhões de portugueses, que nele (partido) depositaram alguma esperança de mudança. A atitude de permanente aproximação à direita liberal, significa numa palavra, a traição. Tudo foi permitido, durante os 6 anos de governação: banca agarrada ao poder, alimentando-o e alimentando-se dele, não contribuindo (como qualquer empresa) com o pagamento do imposto devido, destruição do aparelho produtivo, com o inevitável decrescimento e aumento do desemprego, diminuição crescente do poder de compra, descrédito completo do sistema de justiça, ausência de vontade politica de combater a corrupção, enfim, o assalto sistemático ao aparelho de Estado, para contrabalançar a quota relativamente ao PSD – CDS. O horror à esquerda, tantas vezes manifestado pela liderança do secretário-geral, numa arrogante manifestação, que ele próprio designava de coragem. Tudo era afinal contrariado pela prática constante de multiplicação de institutos e agências, com uma plêiade de acólitos, geralmente pagos a peso de ouro, num País que cada vez foi ficando mais desigual.

Mas este acto eleitoral confirma uma democracia cada vez mais fragilizada. As maiorias são agora criteriosamente fabricadas por uma comunicação social cúmplice do poder económico das grandes empresas, com o seu séquito de comentadores e analistas, confortavelmente acomodados, e ainda pelas empresas de sondagens que, sob a capa diáfana da auscultação do eleitorado, mais não fazem de que orientar, dia a dia, semana a semana, o sentido de voto. Contudo, esta maioria que ora se apresenta, pode ter legitimidade politicamente assegurada por uma minoria de votantes. Mas não tem seguramente uma maioria social. E porque uma democracia, como a entendemos, não se esgota no voto, vamos esperar a resposta social que aí vem. Diria, mais que esperar, vamos como é dever de cidadania, fazer o que for possível, para modificar o estado da arte desta politica, no sentido da mudança social.


Tal como quase 8% dos portugueses dei o meu voto, como habitualmente, à CDU. Que cresceu mais um pouco, contrariando uma sempre anunciada morte, ou declínio. A expectativa de uma alternativa (?) à esquerda gorou-se e terá deixado em muita gente boa, um amargo de boca. Os dias que virão, se não significarem o desengano e até uma desmobilização, poderão servir para uma reflexão profunda no seio da Esquerda em geral. Embora não reste muito tempo para pensar, porque é preciso agir, mal não faz certamente reflectir.


O profundo sentimento de desalento não deve durar mais uns dias de luto, porque a luta (essa sim) é que interessa!

04 junho 2011

O SILÊNCIO DA REVOLTA





Hello darkness, my old friend
I've come to talk with you again
Because a vision softly creeping
Left its seeds while I was sleeping
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence
…”


Sounds of Silence”, Paul Simon, “”Wednesday Morning, 1964




Quase nas vésperas de um grande acontecimento que marcará Lisboa como Capital da Palavra (a), elege-se o Silêncio como forma sublime de expressão. Que viva pois o silêncio, como atitude de inteligência, que não de passividade, forma de protesto, que não da indiferença malévola para que são atirados centenas, milhares ou milhões de portugueses que têm direitos.



Ao evocar mestres da palavra, como Cesariny, Luiz Pacheco, O´Neil ou Jorge Sena, poderíamos talvez convocar a cidadania, não como conceito académico, tantas vezes usado com despudor, mas possivelmente sob o formato de workshop permanente de monitorização do embuste generalizado que graça pela clique dirigente de há 36 anos a esta parte. Seria quiçá uma jogada de contra-ataque, mesmo num campo potencialmente adverso.

Aprendemos ainda que o Silêncio é a alma de um Poeta. E, naquele lirismo que guardamos bem dentro de nós, imaginamos talvez que poderíamos arremessar silêncios aos pobres intérpretes da inevitabilidade, que juntos, coligados, isolados ou copulados, invadiram as cidades, vilas e aldeias do País ocultado e subjugado, que eles mesmo há muito que hipotecaram. E que nos cantam, ou a canção do bandido ou a da charlatão, uns e outros emitindo ruído de mais para ouvidos sensíveis de quem tem ainda alguma alma. E, com a divisa, Não há neutralidade no Silêncio, poderíamos quem sabe neutralizar-lhes o que lhes é mais caro: a atenção que julgam que merecem.

Hoje haverá silêncio. O silêncio da Regra, o institucional. Amanhã haverá porém o outro, que ora convocámos, e que poderá durar semanas, meses, o tempo que for preciso, para os profetas e intérpretes da desgraça a que levaram o País, aprendam de uma vez para sempre, que nem tudo se resume no voto e que há ainda quem não se resigne e que lhes pode ensinar uma outra palavra, que pode bem ser a do som que faz o silêncio…
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(a ) A propósito do Festival do Silêncio, Lisboa Capital da Palavra, Festival do Silêncio, 15 a 25 Junho (http://www.festivalsilencio.com)


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