05 julho 2020

ESTE TEXTO SÓ EXISTE QUANDO É LIDO EM VOZ BAIXA...”[i]


O Rafael, de Thomas Moore, “...descobriu nos diversos povos leis loucas injustas como as nossas, mas também observou grande número de decretos e constituições cujo exemplo salvaria dos seus erros as nossas cidades povos e reinos[ii].
Aprender, portanto, aprender sempre, uma divisa pelos vistos difícil de seguir, tal é a propensão actual, para a asneira e para o disparate.

Tudo (re)começou com o futebol
A partir do episódio patético da liga dos campeões da UEFA, parece que tudo se desmoronou. O Estado perde a compostura, Governo e Presidentes (da República e da AR), irmanados no mesmo ridículo, tentam convencer o País, que era bom trazer para cá, uma data de jogos de futebol. Sousa e Costa aproveitariam ainda a oportunidade para delirar com a perspectiva à vista: o primeiro diria que a liga seria um "um caso único e irrepetível" e o segundo, afirmaria que a realização do evento era o “...melhor prémio para os profissionais de saúde portugueses.”

A TAP, dos sucessivos erros à “derrota” final
Parece um país rico, que se dispõe a investir na aviação. São 1200 mil milhões
mil euro, com a oferta de 55 milhões ao investidor principal, para sair da empresa, onde nada fez senão engordar os seus proveitos e gerir da pior forma. Daniel Oliveira escreveria, sobre isso, “Uma fraude política dirigida por António Costa, executada pelo seu amigo Lacerda Machado – que depois foi nomeado para o Conselho de Administração da companhia aérea – e pelo qual deu a cara o agora eurodeputado Pedro Marques. O seu sucessor no Ministério limita-se a ter de resolver o que todos recebemos. A cláusula do contrato, que permite aos privados recuperarem os cerca de 200 milhões que emprestaram à TAP através de prestações acessórias no caso do Estado reforçar a sua posição acionista, é a confissão da própria fraude.”[iii]
Para investimentos destes, há sempre dinheiro.

E a Saúde e a Educação, senhor?
O Estado recusa-se em investir onde é preciso. Os dois sectores, que deveriam ser vitais para o País e que frequentemente andam nas bocas dos nossos “socialistas”, estão mesmo pela hora da morte. Nada se diz, nada se faz, simplesmente declarações de amor às causas, ao mesmo tempo que chumbam sistematicamente na AR, todas as propostas da Esquerda. Uma catástrofe, que Costa assimila com uma vontade firme de privilegiar acordos à Esquerda. Mais uma fraude, confirmada na aprovação do orçamento suplementar. 

Reanimar a economia?
Que faz o Governo? Investe forte no SNS? Acautela a abertura das Escolas e das Universidades? Toma medidas para estancar o desemprego e as sucessivas investidas dos privados em atropelar o lay-off? Revê apoios aos cidadãos e/ou às pequenas e médias empresas? Aposta definitivamente na produção nacional? Revê circuitos de distribuição de produtos? 
De todo.
Continua a “acreditar” que a salvação do País está em mais turismo, mesmo que tal signifique uma descaracterização completa das nossas principais cidades, entregues à voragem dos números. 
Simplesmente assustadora a imagem de um senhor que apareceu, nas últimas semanas, a querer esburacar o País, a procura de lítio, apresentado como salvador da pátria...

Quem quer retratar-se?
Tenho que dizer: durante o período da pandemia (que ainda vai por aí...), vi e ouvi pessoas que se reclamam de esquerda, elogiar o PM , a Ministra e a respectiva Directora para a Saúde, dizendo inclusivamente que eram os melhores que poderíamos ter, comportamentos impecáveis, tudo bem, tudo certo, as melhores medidas, as soluções mais adequadas, todo um concerto de efabulações, que julgava já erradicado do discurso político. Não, era preciso (pelos vistos) elogiar, até pôr nos píncaros, alternativas para quê, nem devemos sequer mexer no que está bem (ou pensamos que está). 
Eis senão quando, basta um pequeno surto numa região do País, precisamente na capital do País, para se concluir que afinal nem tudo está bem. Transportes superlotados, porque as pessoas têm mesmo que ir trabalhar, condições de vida e de habitação que não são comportáveis com uma sociedade decente, cidadãos que não ganham para o que precisam gastar, idosos que sofrem em lares inadequados. 
E, ao mesmo tempo que a realidade acorda para ela própria, é ver as comadres zangadas com elas mesmas e com as amigas, ver os amigos de ontem transformados em carrascos, porque alguém lhes chegou a roupa ao pelo, ...
Quem estará disposto a dar a cara e dizer, que diabo, enganei-me, às tantas apoiei à pressa, se calhar hoje já não faria o mesmo. Uma boa questão, já não é mau, ter (ainda que tarde) uma posição crítica.

A sempre pouca ambição (nacional)
Contentámos-mos sempre com pouco, poucochinho, ou andamos mesmo muito distraídos. Podíamos dizer, tolerantes. Todavia, este é um termo ao qual manifesto muito pouca adesão...
Haverá outra colónia de Bruxelas, onde exista tão pouca ambição? Tanto baixar os braços. A propaganda fez bem o seu caminho, o resultado está aí, parabéns aos “propagandistas”, todos os que contribuíram e contribuem ainda para que este País continue na senda do famigerado bloco central, que, paulatinamente faz o seu percurso. Por vezes até com a colaboração prestimosa de alguma Esquerda, muitas vezes “distraída” da sua verdadeira função: oferecer uma alternativa credível, defendendo a soberania nacional, única forma possível de fazer frente à cada vez maior investida do império que mora ao lado.

A Utopia, (precisa-se)!
Voltamos ao mestre Thomas More, ele que pagou com a vida a sua Utopia. 
Estávamos em pleno seculo XVI. 
Mas ele tinha uma (utopia), coisa que raramente se vê, na modernidade actual, plena de distopias, onde apenas existem opressão, desespero ou privação. 
Na Utopia, falava de um povo oprimido pelo trabalho incessante para manter o exército, a corte e uma multidão de ociosos. Falava da sede de dinheiro dos reis, dos nobres e dos grandes burgueses, a causa primeira da miséria da maioria. Falava do abismo, cada vez maior, entre as classes sociais.
Rafael, recusa aparentemente o convite em trabalhar na corte, como conselheiro. A sua recusa, baseia-se em que se julga demasiado radical e, assim sendo, não seria levado a sério. E cita Platão, ao afirmar que “...os reis só admitiriam filósofos em suas cortes se eles mesmos estudassem filosofia”.[iv]
E não é que tem razão?
No meio de tanta pobreza de espírito, poucos são os que se julgam “destinados” ao lugar de aconselhar os governantes.
Procuram-se alguns “lacerdas machados” que tenham (ao menos) lido o Mestre...



[i] Afirmação inspirada em Thomas More, in “Utopia”, (1516)
[ii] Idem, ibidem, pág. 22 e 23
[iii] in Expresso Diário, 02/Julho/2020
[iv] Idem, ibidem, 1 e 2 (Resumo)

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